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quinta-feira, 16 de junho de 2005

O rap da primeira chance

por Daniel Sant'Anna em 16 de junho de 2005

Resumo: O que falta no Brasil não são segundas chances e sim, primeiras chances a todos os garotos e garotas pobres e marginalizados que jamais ousam, ousaram ou ousariam roubar, matar, ainda que nada encontrem em seu horizonte.

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As pragas do politicamente correto, do marketing social e do esquerdismo de resultado criaram no Brasil a cultura da segunda chance que consiste basicamente no seguinte: como nosso capitalismo é primitivo, como governo após governo insiste-se em não estimulá-lo, então a sociedade deve criar mecanismos compensatórios para que alguns desafortunados possam ser “socializados” e inseridos de alguma forma num mercado de trabalho imaginário. É a partir daí que surgem, por exemplo, os projetos sociais onde crianças faveladas aprendem a tocar violino ou velejar. Mas não pára por aí: é preciso que o simbolismo contido nessas políticas seja arrebatador. Portanto, nada melhor que dar segundas chances a toda sorte de ex-bandidos, assassinos, estupradores etc.

Vem agora um caso à toa que ilustra a imbecilidade da idéia toda. Um ex-interno da Febem, ao qual foram dadas todas as segundas, terceiras e quartas chances possíveis, é detido de novo sob acusação de latrocínio. Pululam a todo momento novos casos de ex-detentos que se transformam em rappers, cantores, escritores etc. Os casos são mais notórios que os de ex-pedreiros, ex-empacotadores, ex-vigias etc. Um homem honrado, pobre e semi-letrado que se atreva a escrever um livro é motivo de chacota. Mas se tiver assassinado alguém ou roubado um banco e cumprido pena, vai para a primeira página do caderno de cultura.

Sim, todos merecem uma segunda chance. Mas o fato de trazer um passado criminoso não pode servir de cartão preferencial para reingresso na sociedade, especialmente quando há tantos que jamais tiveram chance nenhuma e nem por isso se converteram em criminosos.

O que falta no Brasil não são segundas chances e sim, primeiras chances a todos os garotos e garotas pobres e marginalizados que jamais ousam, ousaram ou ousariam roubar, matar, ainda que nada encontrem em seu horizonte, nem uma perspectiva num país onde o capitalismo só funciona para aqueles que estão direta ou indiretamente ligados ao poder público, um capitalismo de Estado, onde ao indivíduo branco, preto, azul ou amarelo só resta fazer das tripas coração para sobreviver, sem ter de se render ao crime ou à enganação barata das políticas compensatórias.

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