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quinta-feira, 5 de maio de 2005

O ápice do (argh!) politicamente correto.

Quando é de bom-tom evitar palhaço e baianada
Evandro Éboli (O Globo, 30/4/05)

BRASÍLIA. Com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para os "preconceitos nossos de cada dia", a Secretaria especial dos Direitos Humanos elaborou e está distribuindo a cartilha "Politicamente correto". A publicação reúne 96 palavras, expressões e piadas consideradas pejorativas e que revelam discriminações contra pessoas ou grupos sociais, como negros, mulheres, homossexuais, religiosos, pessoas portadoras de deficiência e prostitutas.

A cartilha foi distribuída esta semana a vereadores, deputados estaduais, militantes de organizações não-governamentais e pessoas envolvidas com políticas de direitos humanos, num seminário na Câmara.

Tiragem inicial da cartilha é de cinco mil exemplares

Na cartilha, foram incluídas expressões como "a coisa ficou preta", "mulher no volante, perigo constante" e palavras como branquelo, burro, aidético, sapatão, veado, bêbado, ladrão e até comunista. A publicação foi organizada pelo subsecretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Perly Cipriano, num convênio com a Fundação Universitária de Brasília.

A tiragem é de cinco mil exemplares e o público-alvo inclui ainda policiais, jornalistas e professores. O texto foi elaborado pelo professor Antônio Carlos Queiroz, da Universidade de Brasília (UnB).

"Todos nós utilizamos palavras, expressões e anedotas que, por serem tão populares e corriqueiras, passam por normais. Mas, na verdade, escondem preconceitos e discriminações contra pessoas ou grupos", afirma Cipriano, na apresentação da cartilha.

O livro aponta como politicamente incorreto chamar as pessoas de palhaço e barbeiro, já que ofenderia os profissionais dessas categorias. No caso de barbeiro, diz a cartilha: "Usado no sentido de motorista inábil, é ofensiva ao profissional especializado em cortar cabelo e aparar a barba".

Já a palavra palhaço não deveria ser usada porque os profissionais do ramo poderiam se ofender "quando alguém chama de palhaço uma terceira pessoa a quem se atribui pouca seriedade".

Baianada é outra expressão condenada na cartilha

Baianada é outra expressão condenada, considerada pejorativa porque atribui aos baianos inabilidade no trânsito. Para a Secretaria de Direitos Humanos, a expressão "preto de alma branca" é altamente racista e segregadora e um dos slogans mais terríveis do que chama de ideologia de branqueamento do país.

A palavra baitola, usada vulgarmente para referir-se a homossexuais, é apontada como depreciativa. A cartilha recomenda que se use as palavras gay ou entendido e entendida. O texto considera um insulto chamar de louco um portador de deficiência mental, expressão correta. "A palavra (louco) é usada também para reprimir pessoas que por razões políticas ou antiinstitucionais manifestam rebeldia".

Perly Cipriano afirma que a cartilha não quer promover discriminação às avessas, mas sim incentivar o debate e a reflexão

A cartilha condena:

A COISA FICOU PRETA: forte conotação racista contra os negros, pois associa o preto a uma situação ruim.

AIDÉTICO: termo discriminador, o correto é HIV positivo ou soropositivo, para quem não apresenta os sintomas, e pessoa com Aids ou doente de Aids, para quem apresenta os sintomas.

ANÃO: são vítimas de um preconceito peculiar: o de sempre serem considerados engraçados. Não há nada especialmente engraçado. O fato de ser anão não afeta a dignidade.

BAIANADA: atribui aos baianos inabilidade no trânsito. É um preconceito de caráter regional e racial, como os que imputam malandragem aos cariocas, esperteza aos mineiros, falta de inteligência aos goianos e orientação homossexual aos gaúchos.

BAITOLA: utilizada para depreciar os homossexuais, assim como bicha e boiola. Sugeridos como corretos: gay e entendido (a).

BARBEIRO: xingamento para motorista inábil. Ofensiva ao profissional especializado em cortar cabelo e aparar a barba.

BEATA: deprecia mulheres que vão com muita freqüência à missa.

CABEÇA-CHATA: termo insultuoso e racista dirigido aos nordestinos, cearenses em especial.

COMUNISTA: contra eles foram inventadas calúnias e insultos, para justificar campanhas de perseguição que resultaram em assassinatos em massa, de caráter genocida, como durante o regime nazista na Alemanha.

FARINHA DO MESMO SACO: junto com expressões como todo político é ladrão, todo jornalista é mentiroso, os muçulmanos são terroristas, ilustra a falsidade e leviandade das generalizações apressadas, base de todos os preconceitos. O fato de haver políticos corruptos, jornalistas imprecisos e muçulmanos extremistas não significa que a totalidade desses segmentos mereça aquelas respectivas acusações.

FUNCIONÁRIO PÚBLICO: depois de sistemáticas campanhas de desprestígio contra o serviço público, os trabalhadores dos órgãos e empresas públicas preferem ser chamados de servidores públicos, para enfatizar que servem ao público mais do que ao Estado.

GILETE: o termo adequado é bissexual.

HOMOSSEXUALISMO: é mais adequado usar homossexualidade. Homossexualismo tem carga pejorativa ligada à crença de que a orientação homossexual seria uma doença, uma ideologia ou movimento político.

LADRÃO: termo aplicado a indivíduos pobres. Os ricos são preferencialmente chamados de corruptos, o que demonstra que até xingamentos tem viés classista.

MULHER DA VIDA OU DE VIDA FÁCIL: eufemismos para caracterizar a profissional do sexo, prostituta.

MULHER NO VOLANTE, PERIGO CONSTANTE: frase preconceituosa contra as mulheres, a quem se atribui menos habilidade no trânsito em comparação com os homens, contrariando, aliás, os levantamentos estatísticos.

NEGRO: a maioria dos militantes do movimento negro prefere este termo a preto. Mas em certas situações as duas expressões podem ser ofensivas. Em outras, podem denotar carinho nos diminutivos neguinho ou minha preta.

PALHAÇO: o profissional que vive de fazer as pessoas rirem pode se ofender quando alguém chama de palhaço uma terceira pessoa a quem se atribui pouca seriedade.

PRETO DE ALMA BRANCA: um dos slogans mais terríveis da ideologia do branqueamento no país, que atribui valor máximo à raça branca e mínimo aos negros. Frase altamente racista e segregadora.

SAPATÃO: usada para discriminar lésbicas,mulheres homossexuais. Entendidas e lésbicas são termos mais adequados.

VEADO: uma das referências mais comuns e preconceituosas aos homossexuais masculinos. Expressões adequadas são gay, entendido e homossexual.

XIITA: um dos ramos do Islamismo se tornou no Brasil termo pejorativo que caracteriza militantes políticos radicais e inflexíveis.

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